quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A coragem de Paul Rusesabagina

O que você faria para proteger a sua família de hordas com milhares de fanáticos homicidas armados com facões e machados? Paul fez de tudo. Não só por sua família, mas por centenas de outras em Kigali, Rwanda. Um país pequeno mas dividido por duas etnias cuja rivalidade foi estimulada de forma insidiosa e irresponsável pelos colonizadores belgas, ao escolher uma delas, a Tutsi, como sua preferida em todos os sentidos. Por mostrarem traços físicos mais agradáveis aos europeus, recebiam melhores cargos, salários e status social. A maioria da população pertencia à etnia Hutu, cuja animosidade ganhou corpo com a independência do país em 1962. Todos os nativos eram obrigados a portar um documento classificando a etnia a qual pertenciam, e Paul Rusesabagina era considerado Hutu. Porém, era filho de mãe Tutsi, e essa mistura por si só foi suficiente para que não houvesse qualquer sentido em partidarizar-se por ideais racistas e genocidas dos seus conterrâneos.
Apesar de ter nascido em uma família humilde, Paul teve uma boa educação, tanto formal quanto informal. Após cursar a faculdade de hotelaria em Nairobi, sua devoção ao trabalho e personalidade cativante de um autêntico gentleman lhe alçaram rapidamente ao cargo de gerente geral de uma empresa hoteleira em Kigali. Essa era a sua profissão quando o genocídio promovido pelos Hutus radicais, os Interahamwe, começou em 6 de abril de 1994. Foi tamanha a truculência e barbárie, que em cerca de 100 dias foram mortas mais de oitocentas mil pessoas, entre Tutsis e Hutus moderados, e poucas delas por armas de fogo. O temor por sua esposa Tatiana, uma Tutsi que teve quase toda a família dizimada, o levou a esconder-se no hotel Mille Collines, que com o passar do tempo passou a ser a única esperança de sobrevivência de refugiados, órfãos e feridos. Não sem conhecimento dos Interahamwe, que só puderam ser contidos graças às constantes intervenções de Paul junto aos seus conhecidos no governo local e no extrangeiro. Foram 76 dias de muita coragem, abnegação e determinação, onde todas as suas economias, pertences pessoais e estoques de bebidas foram usados para subornar as autoridades e negociar a prorrogação da sua vida e a de centenas de outras, sem qualquer intervenção humanitária ou militar internacional.Ao final desse longo transe, Paul, sua família e mais 1268 cidadãos refugiados em seu hotel sobreviveram ao massacre. Após reencontrar e adotar duas sobrinhas órfãs em um campo de refugiados, Paul fugiu para a Tanzânia com a ajuda da Frente Patriótica Rwandesa, a resistência que acabou por derrotar os Interahamwe. Depois de retornar e viver em Rwanda por mais dois anos, conseguiu asilo na Bélgica em 1996, vivendo em Bruxelas com a família até hoje.

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